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terça-feira, 31 de julho de 2012

Judoca Rafaela Silva foi vítima de racismo no Twitter


Das respostas intempestivas a comentários agressivos que recebeu pelo Twitter, após ser eliminada da competição de judô dos Jogos de Londres, Rafaela Silva fez questão de se desculpar. 

Mas algumas delas ainda lhe doem bastante, a ponto de ela não segurar as lágrimas hoje de manhã, no Excel Centre, onde assistia às lutas de Leandro Guilheiro e Mariana Silva. Rafaela foi vítima de racismo e a reportagem teve acesso às acusações que lhe foram enviadas pelo Twitter, dizendo que "lugar de macaca é na jaula" e que "vc não é melhor do que ninguém porque você é NEGRA".

O racismo pelo Twitter deve virar caso de polícia. O chefe de equipe do judô e diretor-técnico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson, afirmou que a entidade já informou o chefe de delegação do Brasil em Londres, Bernard Rajzman, sobre o episódio e pediu providências do Comitê Olímpico Brasileiro. Independentemente disso, garantiu que a CBJ estuda modos de fazer com que os insultos não fiquem impunes.

- Já encaminhamos o caso à chefia de delegação do COB e, independentemente do que eles forem fazer, vamos pedir que o caso seja investigado - afirmou Ney.

A judoca, a técnica da seleção brasileira, Rosicleia Campos, e o mestre de Rafaela, Geraldo Bernardes, que a revelou no núcleo Cidade de Deus do Instituto Reação, também querem uma investigação policial do caso.

- Racismo nunca aconteceu comigo. Não sabia nem o que falar. Na hora, só desliguei o computador. Falaram essas coisas e também que minha família não teria orgulho de mim. Foi isso o que mais me ofendeu - disse ela, admitindo que quer que o caso seja investigado. - Não gostaria que ficasse assim.

Geraldo, que junto com Flávio Canto coordena os núcleos do Reação em comunidades carentes do Rio, como Rocinha, Tubiacanga e Cidade de Deus, disse que nunca houve casos de racismo envolvendo seus atletas.


- O núcleo onde ela surgiu fica dentro de uma academia de classe média alta, em Jacarepaguá, e todo mundo treina junto, seja rico ou pobre. De quimono, não há distinção de raça, cor, nada. Acho que a página virada tem de ser pelo que aconteceu na luta, por um golpe normal do judô que a regra não permite. Mas essa questão do racismo não pode ficar impune. Onde vamos parar?

As ofensas racistas contra Rafaela partiram de um usuário apelidado "Urubu Palheta". Ela as encaminhou para Rosicleia, técnica da seleção braisleira feminina, que defendeu a atleta hoje de manhã, após a derrota da peso meio-médio (até 63kg) Mariana Silva para a chinesa Lili Xu, por wazari, logo na primeira luta.

- Não estou justificando a atitude da Rafaela, mas explicando o que aconteceu. Você vem de uma derrota dolorosa daquelas, em que até os árbitros tinham dado o wazari a favor dela, abre o computador para encontrar algum conforto de amigos e familiares e se depara com uma ofensa desse nível? Que país é esse em que a cor de pele justifica um ato dessa natureza? Animal é quem fez isso. Este sim é que deve ir para uma jaula - afirmou Rosicleia. - Acho que ninguém está preparado para se deparar com uma agressão tão grande assim, ainda mais uma menina tão jovem e numa situação de cabeça quente. 

A orientação é ficar longe das mídias sociais, embora a gente saiba que é um meio mais rápido de se comunicar com as pessoas que a gente gosta. Foi uma forma infantil, mas humana de reagir.
Rosicleia, no entanto, admitiu que a orientação, de agora em diante, é para os atletas evitarem ao máximo as redes sociais. A própria CBJ já havia solicitado antes dos Jogos que, para manter a concentração na preparação, os atletas evitassem usar as redes sociais por muito tempo.

- Depois que a porta abriu, a gente tenta botar o cadeado. As redes sociais são muito perigosas e nunca pensei que algo num nível tão baixo pudesse acontecer contra uma de nossas atletas.


Fonte: Jornal O Globo

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