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sábado, 18 de abril de 2015

As aftas ardem e doem... mas saram se você não mexer! Veja mitos e verdades.

De repente, um pontinho pequeno dói na boca. Aí você se lembra do abacaxi que comeu na sobremesa, da chegada da menstruação ou do estresse que passou recentemente. É afta. Hora de se preparar para aguentar alguns dias de incômodo para comer, beber e até falar. Se servir de consolo, saiba que você não é o único a sofrer assim. Segundo especialistas, uma em cinco pessoas tem afta.

Difícil é saber como tratar. Talvez poucos fenômenos do nosso organismo gerem tantas dúvidas como a afta e, ao mesmo tempo, tantas receitas "milagrosas".
"Pode virar um tumor?", há quem se pergunte. "Você deve estar com pouca vitamina", palpita alguém. "Olha, para sarar, tem uma pomadinha tiro e queda."
Qual bochecha com afta que nunca recebeu esses conselhos? Ou aquele recorrente: "Coloca bicarbonato de sódio em cima dela e aguenta a dor!".
O que talvez as pessoas não percebam é que a afta, na verdade, é algo simples, sem mistério e previsível. A começar pela identificação do problema: "A pessoa faz o diagnóstico sozinha. Ela abre a boca e diz: 'Estou com afta'", afirma o cirurgião-dentista Arthur Cerri, assessor científico da Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas.
E o tempo para sarar é quase "matemático". "Dura de 10 a 14 dias, com pelo menos quatro dias de dor", completa o dentista.
Não há nada de grave nas aftas, são apenas lesões esbranquiçadas e às vezes amareladas, de 2,3 mm a 8 mm, sem pus, bactérias ou outros sinais de infecção.
Mas não é à toa que reclamamos. Segundo Marta Silvestre, cirurgiã-dentista do Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein, as aftas doem muito nos primeiros dias, quando há "ulceração da membrana que cobre um tecido, com aumento de vascularização". As fibras nervosas expostas, por isso o ardor.
Ou seja, não existe afta indolor.
O que não é consenso entre especialistas é a causa. "Envolve causas hormonais, causas ácidas, causas bacterianas, hereditárias e por aí vai. Todas aceitas e válidas", diz Arthur Cerri.
Se você tiver propensão ao aparecimento de afta, é importante evitar a acidez, que ataca a mucosa e causa lesões na boca.
Depois das refeições e quando comemos frutas cítricas, a saliva, que é quase neutra, fica mais ácida. Por isso a dica é não esquecer de escovar os dentes.
O própolis, que tem efeito cicatrizante, e o bicarbonato de sódio, que reduz a acidez da boca, podem ajudar, mas é preciso cuidado para não piorar o estado de uma lesão. O recomendável é fazer bochecho. 
Pomadas podem aliviar a dor, mas seu uso não é totalmente eficaz. A boca, por ser úmida, dissolve qualquer coisa que se coloque nela.
E nem pense em queimar ou colocar cinza de cigarro. Essas recomendações são mitos que podem, isso sim, causar um mal maior, como uma grande infecção.
Além disso, uma dieta balanceada é importante para manter a boa saúde do organismo e prevenir ulcerações. Quando a afta aparecer, o melhor a fazer é evitar condimentos e temperos, que doem quando entram em contato com ferida.
E, de resto, não mexer e esperar. "Deixa a afta lá. Tenha paciência um pouquinho que ela vai desaparecer", dizem os dentistas.

Remédios, só para casos graves

Se uma afta incomoda, imagine várias ou uma após a outra.
Há pessoas que sofrem de forma aguda. "Elas têm surtos, não conseguem nem beber água porque dói", conta o cirurgião-dentista Arthur Cerri. Nestes caso, cabe um anestésico.
Segundo o especialista, o uso de qualquer medicamento deve ser feito com prescrição médica. "Eles interferem na microbiota da boca, por isso é preciso de orientação."
Em casos graves, há remédios sistêmicos, que atuam no estômago e intestino, por exemplo. Ou pomadas para serem aplicadas diretamente na mucosa, como as de corticosteroide.
"Pode ser utilizado também bochechos com elixir de dexametasona. Em áreas de difícil acesso, como nos pilares tonsilares [área próxima à garganta], o spray de dipropionato de beclometasona", explica a cirurgiã-dentista Marta Silvestre.
Quanto ao tratamento com uso de vitamina B, para suprir possível carência no organismo, não há pesquisas quem comprovem sua eficácia.
Vale lembrar que, por não ter uma causa específica, o problema não conta com um tratamento específico.