A festa que tomou conta de Guarulhos para saudar o embarque do
Corinthians rumo ao Japão começou horas antes, em concentrações nas organizadas
e na porta do CT, e terminou depois da passagem dos jogadores, no saguão do
aeroporto. No caminho, a manifestação que terminou em confusão com a polícia
teve desde distribuição de multas até um rastro de destruição em Cumbica,
passando por um trânsito acima do normal em uma das principais rodovias de
acesso a São Paulo.
Corinthians, Polícia Militar e os administradores do aeroporto fizeram o
que era possível. O clube soube comunicar-se com as organizadas e preparou a
entrada de seu CT para a saída festejada do ônibus da delegação. Grades de
separação e a presença da polícia davam segurança, e um telão móvel alugado
pelo próprio clube garantia entretenimento com cenas da conquista da
Libertadores, que garantiu o passaporte para o Mundial de Clubes.
O problema é que, para acompanhar tudo isso, os torcedores pararam seus
carros como podiam. A maioria usou a própria pista de acesso ao CT. A polícia
não perdoou, e distribuiu multas para vários dos corintianos empolgados.
Como a ideia era acompanhar o Corinthians o mais de perto possível, a
rodovia Ayrton Senna viveu uma noite de transtornos. Além do volume anormal de
carros e ônibus, pedestres também tomaram várias pistas, com direito a rojões e
bandeirões. Com só uma faixa livre, o cenário foi de caos para quem queria, por
exemplo, chegar a Cumbica para pegar seu voo.
Da chegada ao aeroporto até a despedida do elenco, a organização foi
primorosa. A estratégia de tirar os torcedores do saguão e leva-los a um portão
na área externa foi um sucesso. Os jogadores não foram incomodados e ao mesmo
tempo conseguiram retribuir o apoio. A polícia teve bom senso para ceder à
pressão da torcida ou para contê-la, dependendo da necessidade da situação, sem
nenhuma ocorrência grave.
O problema é que uma movimentação dessa não deixa o aeroporto ileso. As
cerca de 15 mil pessoas deixaram um rastro de garrafas, latas e restos de
rojões nos gramados. Os alambrados que separavam a área da torcida da pista
auxiliar por onde caminharam os jogadores também sofreram. Na hora da
dispersão, era possível ver como eles ficaram retorcidos em diversos pontos.
Daí em diante, no entanto, as coisas fugiram do controle da organização.
Enquanto o trânsito dentro do aeroporto seguia caótico, os corintianos voltaram
ao saguão para poderem ir ao estacionamento. No caminho, se empolgaram e
decidiram tomar conta do local.
A festa teve música, bandeirões, rojões e jatos de extintores de
incêndio. Torcedores se penduraram nas grades do teto, estenderam faixas,
subiram em quiosques e, inevitavelmente, sujaram bastante o local. Mais uma
vez, após a dispersão era possível ver o rastro de sujeira, em especial no
ponto da área de embarque do Terminal 2, onde bilhetes de loteria foram
espalhados pelo chão.
Convocada a tempo, a polícia chegou a conseguiu pôr ordem na casa.
Apesar de mostrar um armamento ostensivo, os oficiais espalharam a multidão sem
violência, e em um primeiro momento até recusaram a ajuda da Tropa de Choque,
já convocada a esta altura.
Minutos depois, no entanto, tudo mudou. Quando a torcida estava
concentrada com sua bateria no andar inferior, usado para o desembarque e o
acesso ao estacionamento, um tumulto começou do nada e opôs policiais e
corintianos. O resultado foi um confronto com direito a tiros de bala de
borracha e bombas de efeito moral. Alguns mais exaltados chegaram a ser
detidos.
Quem saiu sem problemas, no entanto, ainda teve de torcer para poder
voltar para casa sem sustos. Sem espaço no estacionamento, corintianos
improvisaram vagas em pistas auxiliares do aeroporto. Motoqueiros chegaram a
deixar seus veículos em áreas gramadas nas marginais da rodovia, atadas a
árvores. Mais uma vez, então, os policiais apareceram, e era possível ver
alguns carros sendo apreendidos por diversas infrações.