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terça-feira, 3 de julho de 2012

Catadores de lixo são esquecidos pelos candidatos a prefeito


A proximidade das eleições municipais gera expectativas em muitos setores da sociedade. Enquanto algumas pessoas entregam seu voto a um político que defenda seus interesses, algumas áreas de atividade nem se dão ao trabalho de escolher um candidato que a represente. As expectativas de quem vive pelas cooperativas de catadores de lixo em São Paulo, por exemplo, não são nada animadoras. Para os representantes da Cooper Glicério (Cooperativa de Catadores da Baixada do Glicério) ouvidos pelo R7, a reciclagem e toda a infraestrutura em torno dessa atividade não tem recebido a devida atenção. 

A cooperativa nasceu em 6 de maio de 2006 com objetivo de melhorar o programa de coleta seletiva e educação ambiental, preservando o meio ambiente. Sérgio da Silva Bispo, 50 anos, é presidente da cooperativa e garante que eles não tratam de “lixo”, mas sim de “resíduos”. 

Sérgio trabalhou no lixão de Canabrava, em Salvador (BA). Abandonado pelos pais, ele viveu durante muito tempo nas ruas, antes de tentar a sorte em São Paulo, onde chegou andando e pedindo carona. 

Na capital paulista, constituiu a família, hoje composta pela mulher, três filhos e um neto. Para ele, o atual prefeito “só constrói prédio” e a prefeitura tem recursos para ajudar a cooperativa, mas “não dá nada” para eles.

— Falta vontade política. Eles falam para a população que precisa reciclar, mas não fala para quem mandar os resíduos, nem para onde. Além disso, é importante ter uma ajuda de custo. Nós, catadores, precisamos comer e tomar alguma coisa durante nosso trabalho.

Orgulhoso de suas ações, Bispo mostra os documentos que guarda e eles provam que a cooperativa tem convênio com a prefeitura desde que iniciou o trabalho, além da licença da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para funcionar regularmente.

— Prestamos um serviço para a região, mas não recebemos nenhum retorno. Esperamos apoio após essas eleições.
Na primeira quinzena do mês de junho, a cooperativa gastou R$ 987,44. A taxa para que eles possam se manter debaixo do viaduto é de R$ 166,86. Assim, sobra para os catadores a parceria com empresas privadas. Mas Bispo ainda sonha em aumentar a produtividade da cooperativa.
— A prefeitura só reconhece a gente para cobrar, não para ajudar.
Outra história de superação é a do secretário da cooperativa. Ailton Soares Emboava, 45 anos, conta que, quando criança, vinha de Guaianazes com seu pai e fazia a coleta do lixo com um carrinho de mão.
— Eu dormia debaixo do carrinho e me alimentava com ajuda dos moradores. Minha família foi muito miserável, porque meu pai tinha que criar os seis filhos e não tinha condição. Um dia tinha janta, outro não. Hoje em dia, não falta alimentação para os meus filhos, graças ao meu trabalho com o que as pessoas acham que é lixo.
De acordo com ele, os catadores são os “lutadores do lixo”, mas não são reconhecidos. Além disso, o secretário diz que não confia em políticos e que, por esse motivo, não espera mais ajuda da parte deles.
— Eu acho político tudo igual. Temos que fazer por nós. Eles só prometem, porque querem nosso voto, mas depois deixa a gente esquecido, nessa situação que estamos hoje. Parece que eles têm medo de lidar com o lixo. Por isso, temos a parceria com as empresas.
O secretário afirma que a cooperativa faz uma prestação de serviço, mas que “a sujeira (de verdade) continua sempre sendo varrida para debaixo do tapete”.
— Sempre tentamos achar uma maneira de fazer com que eles entendam que nós fazemos uma prestação de serviço. Esse trabalho não deveria ser nosso, mas já que fazemos, deveríamos ser reconhecidos. 
Ao falar sobre seus sonhos e como as próximas eleições poderiam fazer a diferença na vida dele, Ailton afirma que não tem “ambição”, apenas quer continuar ajudando os colegas e outras famílias que podem ser acolhidas pela cooperativa.
— Meu sonho era ter um galpão próprio, para atender mais famílias. Hoje sou secretário, já fui presidente da cooperativa, mas se eu estiver lá em cima, continuarei sendo o pequeno trabalhador. Quase morri de câncer, não tenho motivos para ser ambicioso, só quero viver bem com a minha família. 
Fonte: Portal R7

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