Tacuru (MS) - Eles
são cerca de 170 índios guarani
kaiowá, estão em uma área de 2 hectares de mata ilhada entre um charco e o
leito do Rio Hovy, na divisa da Reserva Sassoró com a Fazenda Cambará,
propriedade de 700 hectares no município de Iguatemi, no sul de Mato Grosso do
Sul. A presença desse grupo de índios na área de mata ocupada por eles há um
ano e chamada de Pyelito Kue/Mbarakay - que quer dizer terra dos ancestrais -
foi decretada ilegal pela Justiça Federal há um mês e os indígenas condenados a
deixar o local. Mas eles se negam a sair e prometem resistir à ordem judicial
de despejo.
"Esta terra não
é dos brancos. É nossa, de nossos ancestrais. Vamos ficar aqui até
morrer", afirma Líder Lopes, um dos chefes do grupo. Na calorenta tarde de
sábado (27), com o rosto pintado, ao lado de outros guerreiros da tribo, Lopes
afirmou ao Estado que o grupo sofre perseguição de fazendeiros
no local e que sabe que a decisão da Justiça manda que deixem o local.
"Mas nós não vamos sair daqui. Se vierem nos tirar vão ter de nos
matar"
Na aldeia escondida entre
árvores de uma reserva ambiental da fazenda havia somente uma dezena de
pessoas, entre adultos e crianças. Lopes alega que a luta dos kaiowás é para
garantir a posse da área que eles afirmam ser o local nos qual seus ancestrais
viveram ainda antes de as fazendas se formarem nesta região do sul de MS, quase
divisa com o Paraguai. A decisão judicial, beneficiando o fazendeiro Osmar Luís
Bonamigo, representado pelo advogado Armando Albuquerque, no entanto, aponta em
outra direção ao não reconhecer a posse das terras pelos kaiowás.
Diante da tensão
entre as partes, a Fundação Nacional do Índio (Funai), por meio do Ministério
Público Federal, recorreu da decisão de primeira instância, em Naviraí. O MPF
pede que os indígenas possam permanecer no local até que seja finalizado um
estudo antropológico da Funai. O clima na região ficou ainda mais tenso com a
chegada de técnicos da fundação, escoltados pela Polícia Federal. Um grupo de
fazendeiros, liderados pelo Sindicato Rural de Tacuru, registrou Boletim de Ocorrência
na delegacia da cidade reclamando da ação da Funai. Pelo menos cinco fazendas
já foram visitadas pelos técnicos: Ipacaraí, Esperança, Pindorama, Estância
Modelo e Alto Alegre.
Fonte: Revista Exame
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